Sobre o autor

Joaquim Maria Machado de Assis, filho de mãe açoriana e de pai afrodescendente, é homem de seu tempo e lugar, e também de muitos outros tempos e lugares. Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839, transitou pelo jornalismo, pelo funcionalismo público, pela crítica e, claro, pela produção literária, que o consagrou. Há mais de século e meio está no centro dos debates mais importantes sobre a literatura, a cultura e a formação social brasileira, envolvendo questões de classe, gênero e raça, bem como os modos de inserção da experiência brasileira nas grandes questões globais e humanas. 

Majoritariamente (re)conhecido por seus romances célebres, Machado de Assis publicou ao longo de 54 anos de vida literária poesia, crítica, teatro, tradução, crônica, conto e romance. Ao todo, 26 títulos entre 1861, quando tinha apenas 22 anos, e 1908, ano de sua morte. Suas primeiras obras publicadas foram o soneto À Ilma. Sra. D.P.J.A., lançado em periódico em 1854, a tradução para a língua portuguesa de Queda que as mulheres têm para os tolos, sátira francesa em prosa por Victor Hénaux, e a peça Desencantos, primeiro livro de sua autoria, de 1861.

Desde a década de 1850 até o início do século XX, sua colaboração em periódicos foi numerosa e frequente. Seus textos apareceram em dezenas deles, com destaque para a Marmota Fluminense, Diário do Rio de Janeiro, Semana IlustradaJornal das Famílias, Revista Brasileira, A Estação e Gazeta de Notícias. Foi também aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional e funcionário público na Secretaria de Estado da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Em 1897 participou da fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual foi presidente vitalício.

A verdadeira imortalidade de Machado, entretanto, está garantida por seus escritos, que estão entre os maiores clássicos da língua portuguesa e da literatura brasileira. Entre eles, para citar apenas uma obra de cada gênero que praticou, o soneto “A Carolina”, a peça de teatro Lição de botânica, a crônica “O velho senado”, o conto “Missa do galo” e o romance Memórias póstumas de Brás Cubas (1881). 

Seus escritos encantam, fascinam e desafiam gerações de leitores ao acionar referências de diversas ordens (filosóficas, literárias, mitológicas, religiosas, históricas, sociais) e se valem de um humor sutilmente construído a partir de ironias, jogos retóricos e ambiguidades. Com isso, Machado de Assis nos convida a refletir sobre como atuam e se misturam em suas personagens  – e em nós – as forças da natureza, o desejo, as determinações das estruturas sociais e também o acaso. 

A trajetória muito bem-sucedida de Machado de Assis deve-se, entre outros fatores, à sua capacidade de figurar estética e literariamente questões brasileiras e humanas, com uma conjunção de inteligência e sensibilidade que não andam a rodo em parte alguma. Para usar suas próprias palavras, um escritor dotado de um “sentimento íntimo” que o tornou homem do seu tempo e do seu país, mesmo quando tratava de assuntos remotos no tempo e no espaço. E, ao tratar de questões do seu tempo e país, Machado de Assis tornou-se um escritor do mundo todo.