História Editorial

Os livros de Machado de Assis foram publicados pelos pioneiros da atividade editorial no Brasil, como Francisco de Paula Brito, os irmãos Garnier, os irmãos Laemmert e Henri Lombaerts; com isso, eles trazem registros dos inícios da edição e do comércio livreiro no país.

Esses editores e as casas editoriais que levavam seus nomes contribuíram para a consolidação do mercado editorial nacional, para a constituição de uma biblioteca de literatura brasileira e para a consagração de escritores, como foi o caso de Machado de Assis.

Paula Brito, o primeiro editor

Francisco de Paula Brito (1809-1861), afrodescendente como Machado de Assis, foi figura importante nos primórdios do mercado editorial no país. Segundo Machado de Assis, “o primeiro editor digno desse nome que houve entre nós”. Pioneiro no ramo tipográfico no Brasil, facilitou e promoveu a publicação de escritos de jovens autores que buscavam oportunidades, incentivou a leitura, a circulação de ideias e os contatos entre figuras notórias da vida social do Rio de Janeiro. A tipografia de Paula Brito era responsável não apenas pela impressão de diversos escritos, mas também pela produção editorial de muitos deles. Além de ter sido a primeira a publicar um livro de autoria de Machado de Assis, Desencantos: fantasia dramática (1861), foi o local onde o jovem Machado de Assis conheceu muitos escritores, artistas e políticos importantes, alguns dos quais se tornariam seus incentivadores e amigos.

Os irmãos Laemmert

Os alemães Edward e Heinrich Laemmert fundaram, em 1838, uma das grandes casas de edição e impressão do Rio de Janeiro no século XIX, que deixou sua marca na história do livro no Brasil: a Tipografia Universal E. & H. Laemmert. Com mais de cem funcionários na década de 1860, o negócio dos irmãos Laemmert teve grande sucesso e foi o maior concorrente da B. L. Garnier, outra editora de extrema importância na história editorial e cultural do Brasil, especialmente pela edição de obras literárias. 

A Laemmert investiu na publicação de romances populares, além de outros gêneros literários e tipos de livros. Inicialmente, a casa trabalhava apenas com a publicação de traduções, mas com o crescimento do mercado e do público leitor, passou a publicar também obras de escritores brasileiros, entre eles Machado de Assis.

Lombaerts

A Lombaerts & C., fundada pelo belga Jean-Baptiste Lombaerts e seu filho Henri Gustave Lombaerts, foi uma importante editora, tipografia e litografia que, a princípio, funcionava como importadora de periódicos estrangeiros, com especial atenção à literatura francesa e belga. 

Entre os periódicos importados, destacou-se a revista francesa La Saison, para a qual a editora produziu um suplemento em português, que circulou no Brasil de 1872 a 1878.

Com a morte do pai em 1875, Henri Gustave Lombaerts decidiu editar sua própria versão brasileira da revista, agora com o nome A Estação. A revista contou com expressiva colaboração de Machado de Assis, que nela publicou muitos de seus contos, alguns recolhidos em coletâneas como Papéis avulsos (1882) e Histórias sem data (1884). A Lombaerts também publicou a peça Tu só, tu, puro amor (1881).

A editora contou também em seu quadro de colaboradores com outros célebres escritores, como Artur Azevedo, Júlia Lopes de Almeida e Olavo Bilac.

Garnier

A expansão do mercado editorial no Rio de Janeiro, no século XIX, acompanhou o crescimento da cidade. Nesse cenário favorável, Baptiste-Louis Garnier veio ao Brasil, em 1844, a fim de investir no ramo editorial, abrindo estabelecimento em sociedade com seus irmãos, Auguste e Hippolyte, dois livreiros e editores com lojas na França.

O editor francês implementou novidades, como a exposição de livros recém-lançados nas vitrines, os preços de capa fixos, o formato francês de livro — um formato compacto, com dimensões de 11,5 x 18,3 cm para maximizar o ganho de espaço de impressão. Além disso, expandiu a impressão de livros na França, o que fez, consequentemente, muitas obras brasileiras serem impressas no país europeu. 

Baptiste-Louis foi editor de grandes autores brasileiros, cujas reputações ajudou a consolidar ou construir. Entre eles, o próprio Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo e Olavo Bilac.

A partir de 1852, Baptiste-Louis utilizou o nome “Livraria B. L. Garnier” para identificação de seu estabelecimento no Brasil, o que pode ser visto em vários exemplares da Machadiana da BBM. 

Em alguns casos, o nome da livraria-editora aparece na folha de rosto, embora o livro fosse impresso por terceiros. É o caso de Helena (1876), impresso pela tipografia do jornal O Globo. Com a morte de Baptiste Louis, em 1893, a livraria passou por herança para seu irmão Hippolyte. Os livros passam então a estampar nas folhas de rosto “H. Garnier”, ou “Livraria Garnier Irmãos”, como se observa nos exemplares de Dom Casmurro (1899) e de Poesias completas, 2ª ed. (1902) Exemplar 1.  A editora de Hippolite também se encarregava da impressão  dos exemplares, o que fica registrado no colofão.